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Feminismo na Literatura- As Bruxas Literárias




Recentemente a editora Darkside publicou a coleção Magicae, uma coletânea de livros focados na história da bruxaria, feitiçaria e feminismo entrelaçados na literatura feminina, contando com as histórias verdadeiramente mágicas e palavras enfeitiçadas dessas bruxas literárias. Portanto, vamos falar delas!


Agatha Mary Clarissa Miller (ou Agatha Christie para os íntimos) escreveu seu primeiro conto aos 18 anos, também trabalhando com obras sobre fenômenos sobrenaturais e também sobre espiritualidade. Nascida no litoral britânico em 189, Agatha nunca sentiu-se verdadeiramente completa nos ambientes escolares, o que instigava seu talento criativo e visão pouco otimista sobre o mundo. Durante a Primeira Guerra Mundial, Agatha serviu como voluntária para a Cruz Vermelha, trabalhando como enfermeira e assistente de farmácia, o que apenas serviu para ampliar seus conhecimentos sobre venenos e poções, remédios e fármacos. Seu conhecimento mortal foi tão maravilhosamente aproveitado em suas obras que não demorou muito a surgir o Dicionário Agatha Christie de Venenos. Agatha ultimamente é um dos nomes mais citados sobre obras de suspense e mistério, uma verdadeira Dama do Suspense.


Mary Shelley, já citada aqui no blog também foi uma das escritoras selecionadas para a coleção de Bruxas Literárias. Apesar do padrão sutil e singelo das mulheres em sua época, Mary não hesitou em jogar toda a sua magia em sua obra de estreia, Frankestein, uma vez que desafiada por Lord Byron. Toda a tragédia e perda em sua vida apenas facilitou para que suas palavras jorrassem verdade e fascínio em sua obra, com toda certeza fazendo jus ao nome de sua mãe, autora de Uma Reivindicação dos Direitos da Mulher, Mary Wolstonecraft. Mary Shelley serve até hoje como um dos mais plenos exemplos de literatura gótica e um pilar inquebrável de criatividade mórbida, a imagem de Criador e Criatura repercutindo resenhas e páginas ainda hoje.


Emily Brontë até tentou levar sua vida como professora, porém as jornadas longas de trabalho e estresse a adoeceu, levando-a a isolar-se e se dedicar integralmente às tarefas domésticas e catequese. Emily era a segunda filha mais velha entre suas irmãs, e a mais reclusa e introvertida, passando seus dias na própria companhia. Atualmente, o nome Brontë leva o legado de sua obra, o Morro dos Ventos Uivantes, um marco histórico para o romantismo e inspiração para todos os romances complexos já escritos. Apesar de haver pouco o que dizer sobre sua vida, visto que morrera aos 30 anos, podemos dizer o seguinte: Emily era uma bruxa tão talentosa que usou seus dons intelectuais para ensinar alemão à si mesma, e possuía um talento à cura mágica ao ponto de cauterizar o próprio braço ao ser mordida por um cão.


Audre Lorde descrevia à si mesma como "negra, lésbica, mãe, guerreira, poeta". Audre não apenas era uma afronta viva e ambulante à sociedade de sua época, como também uma bem audível. Lorde dedicou sua vida inteiramente à luta contra as repressões sociais como machismo, racismo, homofobia e discriminação de classes. Um marco de extrema importância para o feminismo, ela escreveu diversas poesias, ensaios, matérias jornalísticas e até mesmo um periódico que visava transmitir notícias para mulheres na localidade. Audre Lorde transmitiu toda a sua fúria e negação em suas palavras, tanto quanto os fardos e dores de uma mulher em sangue, contando histórias sobre sua infância e o diagnóstico de câncer de mama. Não há melhores palavras à descrever Audre do que "mulheres são poderosas e perigosas".


Virginia Woolf, uma das minhas favoritas! Virginia poderia ser considerada, literalmente, uma bruxa em sua época. Popularmente, existe um rumor que afirma que a escrita de Woolf, e principalmente sua ideia original de mesclar pensamentos de um narrador onipresente à narrativa criativa fossem resultados de recaídas e colapsos de sua saúde mental. Apesar disso, Virginia já se tornara um ícone muito antes de sua morte, o que teria realmente popularizado suas obras. Virginia participara por um período curto de um grupo de neopagãos, adepta ao socialismo, vegetarianismo, contato com a natureza e costumes antigos e principalmente, nudez em público. Woolf acreditava na reconexão entre hábitos selvagens junto ao iluminismo da mente humana, tornando-se não apenas um símbolo de ideias liberais e socialistas, como também do feminismo liberal como um todo.


Carolina de Jesus foi escolhida para a coleção exclusiva brasileira, uma das primeiras escritoras pretas em nossa história, nascida entre as favelas de Canindé, sustentando três filhos como catadora. Em 1960, Carolina publicou seu diário com o título Quarto do Despejo, uma recontagem não apenas de sua mente brilhante, mas também um reflexo das dificuldades e transtornos de uma mãe solteira, preta e na favela. Quando publicado, sua obra esgotou-se em menos de uma semana, vendendo atualmente mais de um milhão de cópias para todos os quatorze idiomas para os quais fora traduzido. Carolina de Jesus jamais se submeteu ao teto de vidro em nossa cultura, muito menos à sua realidade cotidiana doméstica e maternal. Até o dia de sua morte, Carolina manteve-se forte e firme, recusando-se a ceder para um homem apesar de todos os pedidos de namoro e casamento. Ela se manteve sozinha com seus três filhos, onde saberia que iria prosperar.


Clarice Lispector, um dos nomes mais apreciados em nossa cultura, formada em Direito, mas consagrada como Escritora nos dias de hoje. Clarice foi nomeada maior escritora judia desde Franz Kafka, publicando sua primeira obra, Perto do Coração Selvagem aos 24 anos. A narrativa de Clarice é de uma fluidez lírica leve e tangível, aplicando um uso maravilhoso de metáforas insólitas numa quebra perfeita do padrão narrativo usual na época. Clarice não apenas era um gênio nas palavras, como também em idiomas, mestre em pelo menos sete, português, inglês, francês, espanhol, hebraico, iídiche e russo, além de um humor e visão sobre a vida únicos e pertinentes. (Quer uma dica? Vá assistir às suas entrevistas!)


Lygia Fagundes Telles, de mãos dadas com Carolina e Clarice, também pisa firmemente no título de escritora brasileira feminista no século XX. Usando se sua visão fantasiada, porém ainda muito real, Lygia escreve contos e romances num tom apaixonante e caloroso sobre drogas, sexo, amor e perdição. A mesclagem da realidade cultural brasileira com os fios dourados de fantasia em sua mente talharam uma tapeçaria brilhante sobre a vida, em todos seus altos e baixos, desníveis e sulcos. Lygia brinca com a percepção do corrupto e sujo, colorindo as bordas da realidade brasileira num gostinho de afronta à síndrome de vira-lata e misoginia constantes. Com 97 anos, sua obra mais recente fora publicada com o título A Espera, um conto perdido escrito em meados de 1980 numa edição exclusiva à Grécia! O Olimpo seria sortudo de ler as palavras dessa deusa da literatura.


E assim, conhecemos não apenas as mulheres selecionadas ao conjunto Bruxas Literárias, mas também as Margaridas resistentes em seus tempos. Margaridas Mágicas, por assim dizer!


Ray Lima.

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